7 perguntas e respostas sobre esportes coletivos
Confira as repostas às principais dúvidas sobre o trabalho com vôlei, futebol, handebol e basquete com as turmas do 2º ao 5º ano
Rita Trevisan (novaescola@atleitor.com.br)JOGOS ADAPTADOSNa EMEB Marina Pires de Araujo, o professorCaio de Campos Busca propõe jogos devôlei com regras e materiais adaptados.Ele pede que as crianças arremessem abola por cima da rede com uma das mãose depois com as duas. Quando nota que atarefa é executada com facilidade,aumenta o desafio.Se bem planejadas, as aulas com esportes coletivos ajudam a ensinar conceitos importantes, como técnicas de modalidades variadas, sua história e a importância do trabalho em equipe. Além disso, garantem as condições para que todos os alunos tenham acesso ao esporte e, ao praticá-lo, desenvolvam suas competências técnicas e táticas, como também a habilidade de se relacionar em jogos coletivos e de solucionar situações-problema gradativamente mais complexas. Para ajudá-lo, NOVA ESCOLA reuniu as principais dúvidas sobre o trabalho com modalidades coletivas, respondidas a seguir.
1 Há idades mais adequadas para introduzir as diferentes modalidades de esporte?
Não. Todas podem ser trabalhadas com crianças de diferentes faixas etárias, mas é importante fazer adaptações com relação ao esporte oficial. Nas aulas do professor de Educação Física Caio de Campos Busca na EMEB Marina Pires de Araujo, em Itatiba, a 80 quilômetros de São Paulo, a turma do 2º ano usa a rede de vôlei num tamanho compatível com a sua altura e bolas grandes e macias (leia o quadro abaixo). É fundamental garantir que todos conheçam os gestos associados a cada esporte. "É preciso dar condições para que todos avancem em seu tempo", explica Alexandre Arena, do Instituto Esporte e Educação, em São Paulo.
2 O que é essencial ensinar às crianças?
Técnicas, conceitos de saúde e história do esporte. Dentro desses temas, observe o que é mais importante para a turma."Em uma classe com conflitos, deve-se fazer atividades que gerem reflexão sobre o respeito ao adversário", diz Adriano José Rossetto Jr., professor da Universidade Gama Filho (UGF), no Rio de Janeiro.
3 Campeonatos devem ser organizados?
Sim, pois ajudam a trabalhar conceitos como análise tática e trabalho em equipe. Mas nelas deve haver atividades de que todos possam participar, ainda que isso exija adaptações. "Se só existe lugar para as equipes de alto nível em uma competição, então excluiremos a maioria das crianças", afirma Rossetto.
4 Deve-se propor clínicas de aperfeiçoamento?
Depende dos objetivos. Elas farão sentido se forem uma forma de contribuir para que os alunos se aprimorem nos fundamentos de cada prática. O que não vale é direcionar as aulas para o aperfeiçoamento dos naturalmente mais habilidosos. Para eles, a escola deve criar oportunidades no contraturno.
5 Qual é a melhor forma de montar as equipes?
A organização deles deve ser feita de acordo com seus objetivos, mas sempre garantindo grupos heterogêneos: estudantes de diferentes portes físicos, mais e menos habilidosos, meninas e meninos. É essencial que todos vivenciem cada um dos papéis no coletivo para que treinem diversas habilidades. No jogo de futebol, é um erro destacar as meninas sempre para as posições de defesa. "Elas podem defender no primeiro tempo, enquanto os meninos atacam. Porém, no segundo tempo, a situação se inverte", lembra Marcelo Jabu, coautor dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Educação Física. O único cuidado é não delegar essa tarefa às crianças. Elas vão se unir por afinidades e os objetivos da atividade não serão garantidos.
6 Qual deve ser o papel do professor durante um jogo?
É importante observar a partida para avaliar constantemente as atividades desenvolvidas pelos alunos. "Ele deve perceber se a atividade está adequada e se mantém os alunos motivados", diz Rossetto (leia a sequência didática). Também é papel do docente esclarecer regras e mediar conflitos. A função de árbitro, nos jogos, pode ser delegada aos alunos. "Assim, eles refletem sobre a importância de tomar decisões se baseando em regras preestabelecidas e respeitá-las", completa Jabu.
7 Como estudar a fisiologia do esporte na aula?
Os alunos podem identificar as capacidades físicas mais exigidas, como força, resistência, flexibilidade, ritmo, coordenação e velocidade, e que interferem diretamente na realização de determinados movimentos. Por exemplo, ao jogar futebol, as crianças podem ser questionadas sobre o que é necessário para que se saiam cada vez melhor. Nas respostas, a questão da força e da velocidade aparecerá. Você deve levantar essas capacidades com a turma e depois ajudar a construir os conceitos associados a elas.
Os erros mais comunsEnsinar apenas as técnicas relativas à cada prática. É preciso utilizar sequências didáticas que permitam ir além do treino das habilidades motoras.
Valorizar os mais aptos. Ao perceber que alguns alunos possuem mais habilidade em determinada prática, o ideal é sugerir que eles cooperem com os demais colegas. É incorreto deixar esses alunos sempre em posição de destaque, à custa da exclusão de outros.
Exigir desempenho. Especializar as crianças em apenas uma modalidade e tornar o esporte uma obrigação não condiz com o contexto escolar.
Ignorar as especificidades de cada turma. Os esportes coletivos oficiais devem ser adaptados de acordo com as limitações físicas e as necessidades de cada classe.Como praticar esportes em escolas sem quadra
A falta de infraestrutura não pode impedir que ocorram boas aulas. Veja como propor jogos e atividades de atletismo em espaços adaptados
Elisa Meirelles (elisa.meirelles@abril.com.br), de Palmeira dos Índios, AL. Colaborou Camila Monroe, de Itabaiana, SEDIFICULDADE MAIORMateriais simples, como cadeiras ecordas, são suficientes para deixara aula mais desafiadoraMuito se fala sobre a ausência de quadras e ginásios de esporte. Segundo dados do Censo Escolar de 2009 divulgados pelo Ministério da Educação (MEC), apenas 31% das unidades de Ensino Fundamental têm esses equipamentos. E mais: uma parcela considerável delas sofre com más condições de conservação - o piso está rachado ou falta material, como tabelas, redes e gols.
Essa realidade, no entanto, não pode ser um impeditivo para aulas produtivas. Conforme consta nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), "mesmo que não se tenha uma quadra convencional, é possível adaptar espaços para o trabalho em Educação Física". Como fazer isso? O primeiro ponto é entender que, na escola, o esporte não deve ter como objetivo formar atletas olímpicos ou grandes talentos do futebol e do basquete. Ele precisa ser pensado como parte de um trabalho amplo, capaz de levar os alunos a participar de atividades corporais variadas, a reconhecer e respeitar suas características físicas, assim como as dos colegas, e conhecer as diversas manifestações culturais brasileiras.
Sendo assim, não é imprescindível contar com uma quadra oficial para que a turma tenha a chance de desenvolver as habilidades esperadas. Adaptar as regras de uma modalidade esportiva de acordo com os espaços disponíveis e criar um jogo em que os conteúdos sejam trabalhados é uma boa maneira de driblar as limitações e garantir um ensino de qualidade. O pátio interno, o jardim, um campo gramado e até mesmo os arredores da escola podem ser aproveitados.
Cabe ao professor pensar em alternativas: estender cordas entre árvores para que as crianças organizem uma partida de voleibol em pequenos grupos, pendurar pneus e aros nas árvores para funcionarem como alvos em jogos de arremesso e basquete, utilizar os desníveis de terreno e os materiais disponíveis como partes de circuitos de corrida com obstáculos são algumas sugestões apresentadas nos PCNs. Além delas, outras tantas possibilidades podem ser criadas.
O professor que observa as práticas que já fazem parte da realidade dos alunos e tenta trazê-las para o ambiente escolar também costumam ter bons resultados. Se os meninos jogam gol a gol (quando um bate o pênalti e o outro defende) ou se a turma gosta de praticar vôlei em duplas na praia, por que não aproveitar essas atividades como base para o planejamento? O importante é ter claro o que se quer ensinar e, com base nisso, pensar na maneira como deve adaptar os recursos físicos da escola.
Conheça, a seguir, opções para trabalhar com conteúdos relativos ao atletismo e aos jogos pré-desportivos fora das quadras e dos ginásios.
7 perguntas e respostas sobre esportes coletivos
Confira as repostas às principais dúvidas sobre o trabalho com vôlei, futebol, handebol e basquete com as turmas do 2º ao 5º ano
Rita Trevisan (novaescola@atleitor.com.br)
JOGOS ADAPTADOSNa EMEB Marina Pires de Araujo, o professorCaio de Campos Busca propõe jogos devôlei com regras e materiais adaptados.Ele pede que as crianças arremessem abola por cima da rede com uma das mãose depois com as duas. Quando nota que atarefa é executada com facilidade,aumenta o desafio.
1 Há idades mais adequadas para introduzir as diferentes modalidades de esporte?
Não. Todas podem ser trabalhadas com crianças de diferentes faixas etárias, mas é importante fazer adaptações com relação ao esporte oficial. Nas aulas do professor de Educação Física Caio de Campos Busca na EMEB Marina Pires de Araujo, em Itatiba, a 80 quilômetros de São Paulo, a turma do 2º ano usa a rede de vôlei num tamanho compatível com a sua altura e bolas grandes e macias (leia o quadro abaixo). É fundamental garantir que todos conheçam os gestos associados a cada esporte. "É preciso dar condições para que todos avancem em seu tempo", explica Alexandre Arena, do Instituto Esporte e Educação, em São Paulo.
2 O que é essencial ensinar às crianças?
Técnicas, conceitos de saúde e história do esporte. Dentro desses temas, observe o que é mais importante para a turma."Em uma classe com conflitos, deve-se fazer atividades que gerem reflexão sobre o respeito ao adversário", diz Adriano José Rossetto Jr., professor da Universidade Gama Filho (UGF), no Rio de Janeiro.
3 Campeonatos devem ser organizados?
Sim, pois ajudam a trabalhar conceitos como análise tática e trabalho em equipe. Mas nelas deve haver atividades de que todos possam participar, ainda que isso exija adaptações. "Se só existe lugar para as equipes de alto nível em uma competição, então excluiremos a maioria das crianças", afirma Rossetto.
4 Deve-se propor clínicas de aperfeiçoamento?
Depende dos objetivos. Elas farão sentido se forem uma forma de contribuir para que os alunos se aprimorem nos fundamentos de cada prática. O que não vale é direcionar as aulas para o aperfeiçoamento dos naturalmente mais habilidosos. Para eles, a escola deve criar oportunidades no contraturno.
5 Qual é a melhor forma de montar as equipes?
A organização deles deve ser feita de acordo com seus objetivos, mas sempre garantindo grupos heterogêneos: estudantes de diferentes portes físicos, mais e menos habilidosos, meninas e meninos. É essencial que todos vivenciem cada um dos papéis no coletivo para que treinem diversas habilidades. No jogo de futebol, é um erro destacar as meninas sempre para as posições de defesa. "Elas podem defender no primeiro tempo, enquanto os meninos atacam. Porém, no segundo tempo, a situação se inverte", lembra Marcelo Jabu, coautor dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Educação Física. O único cuidado é não delegar essa tarefa às crianças. Elas vão se unir por afinidades e os objetivos da atividade não serão garantidos.
6 Qual deve ser o papel do professor durante um jogo?
É importante observar a partida para avaliar constantemente as atividades desenvolvidas pelos alunos. "Ele deve perceber se a atividade está adequada e se mantém os alunos motivados", diz Rossetto (leia a sequência didática). Também é papel do docente esclarecer regras e mediar conflitos. A função de árbitro, nos jogos, pode ser delegada aos alunos. "Assim, eles refletem sobre a importância de tomar decisões se baseando em regras preestabelecidas e respeitá-las", completa Jabu.
7 Como estudar a fisiologia do esporte na aula?
Os alunos podem identificar as capacidades físicas mais exigidas, como força, resistência, flexibilidade, ritmo, coordenação e velocidade, e que interferem diretamente na realização de determinados movimentos. Por exemplo, ao jogar futebol, as crianças podem ser questionadas sobre o que é necessário para que se saiam cada vez melhor. Nas respostas, a questão da força e da velocidade aparecerá. Você deve levantar essas capacidades com a turma e depois ajudar a construir os conceitos associados a elas.
Os erros mais comuns
Ensinar apenas as técnicas relativas à cada prática. É preciso utilizar sequências didáticas que permitam ir além do treino das habilidades motoras.Valorizar os mais aptos. Ao perceber que alguns alunos possuem mais habilidade em determinada prática, o ideal é sugerir que eles cooperem com os demais colegas. É incorreto deixar esses alunos sempre em posição de destaque, à custa da exclusão de outros.
Exigir desempenho. Especializar as crianças em apenas uma modalidade e tornar o esporte uma obrigação não condiz com o contexto escolar.
Ignorar as especificidades de cada turma. Os esportes coletivos oficiais devem ser adaptados de acordo com as limitações físicas e as necessidades de cada classe.
Como praticar esportes em escolas sem quadra
A falta de infraestrutura não pode impedir que ocorram boas aulas. Veja como propor jogos e atividades de atletismo em espaços adaptados
Elisa Meirelles (elisa.meirelles@abril.com.br), de Palmeira dos Índios, AL. Colaborou Camila Monroe, de Itabaiana, SE
DIFICULDADE MAIORMateriais simples, como cadeiras ecordas, são suficientes para deixara aula mais desafiadora
Essa realidade, no entanto, não pode ser um impeditivo para aulas produtivas. Conforme consta nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), "mesmo que não se tenha uma quadra convencional, é possível adaptar espaços para o trabalho em Educação Física". Como fazer isso? O primeiro ponto é entender que, na escola, o esporte não deve ter como objetivo formar atletas olímpicos ou grandes talentos do futebol e do basquete. Ele precisa ser pensado como parte de um trabalho amplo, capaz de levar os alunos a participar de atividades corporais variadas, a reconhecer e respeitar suas características físicas, assim como as dos colegas, e conhecer as diversas manifestações culturais brasileiras.
Sendo assim, não é imprescindível contar com uma quadra oficial para que a turma tenha a chance de desenvolver as habilidades esperadas. Adaptar as regras de uma modalidade esportiva de acordo com os espaços disponíveis e criar um jogo em que os conteúdos sejam trabalhados é uma boa maneira de driblar as limitações e garantir um ensino de qualidade. O pátio interno, o jardim, um campo gramado e até mesmo os arredores da escola podem ser aproveitados.
Cabe ao professor pensar em alternativas: estender cordas entre árvores para que as crianças organizem uma partida de voleibol em pequenos grupos, pendurar pneus e aros nas árvores para funcionarem como alvos em jogos de arremesso e basquete, utilizar os desníveis de terreno e os materiais disponíveis como partes de circuitos de corrida com obstáculos são algumas sugestões apresentadas nos PCNs. Além delas, outras tantas possibilidades podem ser criadas.
O professor que observa as práticas que já fazem parte da realidade dos alunos e tenta trazê-las para o ambiente escolar também costumam ter bons resultados. Se os meninos jogam gol a gol (quando um bate o pênalti e o outro defende) ou se a turma gosta de praticar vôlei em duplas na praia, por que não aproveitar essas atividades como base para o planejamento? O importante é ter claro o que se quer ensinar e, com base nisso, pensar na maneira como deve adaptar os recursos físicos da escola.
Conheça, a seguir, opções para trabalhar com conteúdos relativos ao atletismo e aos jogos pré-desportivos fora das quadras e dos ginásios.